Em uma calçada qualquer
De um lugar qualquer
Três senhores com a elegância ate o pescoço
Observam com suas bocas abertas e desarmadas
Um número qualquer de rapazes que parecem consertar algo
Ou algum tipo de trabalho qualquer
Três guerreiros corajosos que enfrentam o reumatismo no osso
Fazem isso na chuva ou no sol
Um torce contra, outro a favor
O terceiro narra…como se fosse uma partida de futebol
“ Estamos em que parte do dia ? ”
O sol faz molhar a testa
“ Os rapazes começaram faz pouco tempo ”
Em uma sincronia não ensaiada :
Fecha-se uma boca
Piscam-se os olhos
Ajeita-se o chapéu
Vai e volta…e recomeça o movimento
Com uma boca aberta dessa vez
“ Imaginava que a minha aposentadoria seria uma festa ”
“ O cano vem descendo insinuante pela ponta esquerda…e como espetacularmente raaaaaspa o supercilio do pedreiro ”
Algumas blasfêmias são proferidas ao vento
Tanto no grupo dos senhores quanto no dos trabalhadores
As mesmas palavras
Algumas cuspidas tambem caem no chão
Salivas iguais em impureza e infiéis em compostura
“ Vou cagar ”
“ Vou almoçar , amanha que dia é ? Vamos jogar ou rezar ?
E apenas um permaneceu
Mas nao acompanhava mais o andamento da obra
Estava a pensar
O amanha chegou, não chegou ?
E o depois de amanhã só de se imaginar
Faz o rosto tremer e o corpo balancar
E entao um tijolo se dissolve em poeira bem do lado dos seus pés
Os olhos molhados como a testa parecem despertar…ainda bem assustados
“ Sai do meio velho maldito, se não tu vai pra cova mais cedo ”
Os insultos, as blasfêmias, o ódio que seca a saliva e impossibilita a cusparada
Homens trabalhando em baixo de uma calçada
Vazia
Nenhum comentário:
Postar um comentário