quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

AMANHÃ E DEPOIS


Em uma calçada qualquer

De um lugar qualquer

Três senhores com a elegância ate o pescoço

Observam com suas bocas abertas e desarmadas

Um número qualquer de rapazes que parecem consertar algo

Ou algum tipo de trabalho qualquer

Três guerreiros corajosos que enfrentam o reumatismo no osso

Fazem isso na chuva ou no sol

Um torce contra, outro a favor

O terceiro narra…como se fosse uma partida de futebol

“ Estamos em que parte do dia ? ”

O sol faz molhar a testa

“ Os rapazes começaram faz pouco tempo ”

Em uma sincronia não ensaiada :

Fecha-se uma boca

Piscam-se os olhos

Ajeita-se o chapéu

Vai e volta…e recomeça o movimento

Com uma boca aberta dessa vez

“ Imaginava que a minha aposentadoria seria uma festa ”

“ O cano vem descendo insinuante pela ponta esquerda…e como espetacularmente raaaaaspa o supercilio do pedreiro ”

Algumas blasfêmias são proferidas ao vento

Tanto no grupo dos senhores quanto no dos trabalhadores

As mesmas palavras

Algumas cuspidas tambem caem no chão

Salivas iguais em impureza e infiéis em compostura

“ Vou cagar ”

“ Vou almoçar , amanha que dia é ? Vamos jogar ou rezar ?

E apenas um permaneceu

Mas nao acompanhava mais o andamento da obra

Estava a pensar

O amanha chegou, não chegou ?

E o depois de amanhã só de se imaginar

Faz o rosto tremer e o corpo balancar

E entao um tijolo se dissolve em poeira bem do lado dos seus pés

Os olhos molhados como a testa parecem despertar…ainda bem assustados

“ Sai do meio velho maldito, se não tu vai pra cova mais cedo ”

Os insultos, as blasfêmias, o ódio que seca a saliva e impossibilita a cusparada

Homens trabalhando em baixo de uma calçada

Vazia

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